quinta-feira, setembro 01, 2022

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Raimundos, a banda de rock cover de si mesma.

O meu primeiro contato com a banda de rock RAIMUNDOS ocorreu quando eu ainda era um moleque assanhado de 13 anos e visitava um vizinho do prédio onde morava que tinha o segundo disco da banda. 
Foi amor à primeira vista, tudo que um adolescente desajustado gostaria de ouvir: putaria, rebeldia, palavrões, piadas loucas e muito humor. A paixão foi tão certeira que eu imediatamente me encarreguei de conseguir comprar o álbum LAVÔ TÁ NOVO, disco de 1995 e que foi o responsável por levar a banda à popularidade de forma meteórica. 

Os Raimundos tinham toda a receita de bolo para se tornar um fenômeno do rock brasileiro, conseguiram imprimir brasilidade, rock pesado, letras escrachadas, ritmos regionais e muita sacanagem. Bandas assim logo conseguem chamar a atenção dos jovens e conquistar um lugar especial na mídia, pois eram a antítese de tudo aquilo que o mercado exigia, tinham uma energia fora do comum, transmitiam atitude e honestidade, não era uma bandinha pré fabricada para o sucesso como tanto existe atualmente, eles eram autênticos e isso foi um fator chave para o sucesso deles.
Os anos foram se passando, fui amadurecendo, fui mudando minha personalidade e, embora ainda tivesse comprado mais 2 outros discos dos Raimundos, o primeiro disco homônimo de 1994 e o terceiro disco, Lapadas do Povo, de 1998, a minha percepção a respeito dos Raimundos nunca mais fora a mesma. Com 19 anos, eu já começava a sentir vergonha da banda, das letras, do excesso de rebeldia e não enxergava mais nenhum carisma no Rodolfo, vocalista da banda, em suas atuações de palco.
Embora os Raimundos possam ser considerados como uma das melhores bandas de Rock da história do Brasil, a mesma foi enterrada com a saída do vocalista Rodolfo que saiu após se converter ao envangelhismo. 

E passados os anos, aquele público que conheceu a banda no seu auge envelheceu, casou, teve filhos, formaram-se em faculdades, arranjaram empregos e não eram mais aqueles adolescentes retardados e inconsequentes que colocavam rebeldia em primeiro lugar. Infelizmente, a banda não amadureceu junto com seu público e ficou parada no tempo junto com seus últimos sucessos e hits produzidos enquanto Rodolfo Abrantes ainda era o letrista e vocalista da banda. 

Sim, e o que eu quero dizer com isso? Onde eu quero chegar?
Pois bem, é triste constatar que uma das maiores bandas do rock brasileiro tinha um defeito grave, dependendiam de 1 pessoa, o cabeça, para produzir os grandes hits da banda que marcaram época e foram capazes de levar a mesma ao estrelato. 

Sim, apenas o Rodolfo Abrantes foi capaz de levar a banda ao auge com seu talento nato para compor os grandes sucessos dos Raimundos. Isso é um defeito que outras bandas como Titãs, Skank, Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, entre outras, não tinham, porque recebiam letras e composições de várias pessoas que produziam conteúdos artísticos. 

Os Titãs, para efeito de comparação, tinha vários compositores dentro da própria banda: Nando Reis, Arnaldo Antunes, Sérgio Brito, etc. Já bandas como Skank e Cidade Negra, além de seus compositores internos, recebiam letras e conteúdos de outros letristas de outros projetos que ajudaram várias bandas com vários hits. Já com os Raimundos, a história era outra, apenas Rodolfo conseguiu imprimir a identidade da banda e isso foi ao mesmo tempo o fator chave do sucesso e o calcanhar de aquiles.
Os anos se passaram e a banda Raimundos nunca mais conseguiu produzir nada de relevante para o rock nacional, pelo contrário, parou no tempo e hoje vive de cover de si mesma. Nem de longe conseguem a quantidade de shows e público que outrora conseguiam em seus tempos de glória e suas tentativas de lançar novos discos só foram possíveis graças ao seu público fiel que financiou o último disco de estúdio deles por meio de financiamento coletivo. Estou falando do disco de Cantigas de Roda de 2014.
E por que eu usei o termo "COVER DE SI MESMA"? Preconceito? Injustiça? É óbvio que não, porque eu também já gostei muito da banda Raimundos e minha música favorita de todos os tempos da banda se chama "Andar na Pedra", letra que me fez ter orgulho da banda e me fez acreditar que eles seriam absolutamente capazes de superar o estigma de banda engraçada e escrachada que ficaram conhecidos. 

Sim, eu acredito que o Raimundos poderiam ter amadurecido junto com seu público assim como outras bandas de rock internacionais que também passaram por momentos difíceis e evoluíram. Infelizmente, esse não é o caso dos raimundos.
Hoje, eu penso que a banda Raimundos já deveria ter acabado há muito tempo, porque está claro que eles não possuem mais a atitude, energia, talento e honestidade que possuiam enquanto eram jovens garotos de brasília explodindo Brasil afora. Atualmente, a banda não passa de uma empresa para sustentar a casa dos antigos músicos remanescentes que não encontraram outra fonte de renda na vida senão com a antiga banda e isso nos traz uma dolorosa reflexão. 

A verdadeira arte pode coexistir com o capitalismo? Até há casos que sim, mas na maioria esmagadora das vezes, isso acaba dando muito errado.
O que temos hoje não é mais uma banda de punk rock autêntica, honesta e com atitude de roqueiros raiz, mas apenas empresários querendo ganhar dinheiro com o que restou da banda. 

A capacidade produtiva da banda se exauriu, o Digão se tornou um tiozão chato, ranzinza e conservador que, indiretamente, apoia o atual presidente reacionário Jair Messias Bolsonaro. Sim, acreditem, o Digão, atual vocalista da banda Raimundos que já foi um roqueiro casca grossa e desbocado hoje apoia um candidato que já disse que daria golpe de estado no Brasil caso fosse eleito presidente do país, que já disse que preferiria que um filho seu morresse caso fosse gay, que atacou mulheres na frente das câmeras e, recentemente, vem ameaçando o sistema eleitoral brasileiro com mentiras e ameaças. 

Lógico que roqueiro tem direito de ser de direita, porque o rock, embora historicamente mais progressista do que conservador, também sempre foi libertário e defensor das liberdades individuais. O que não pode é um roqueiro ser reacionário, mentiroso, falso, desonesto e complacente com políticos que não pensam na população, apenas em seus interesses individuais. Não acho que o Digão tenha que ser de esquerda, mas ser cego, falso e pseudo moralista é algo inconcebível para alguém que pertence a uma das bandas mais rebeldes da história do Brasil. 

Hoje, os Raimundos não condizem mais com sua essência, com o que eles ficaram conhecidos, perderam sua originalidade e se tornaram meros empreendedores que se arriscam brasil afora desbravando shows todos os meses.
É inaceitável ver uma das melhores bandas de rock do Brasil terminar com essa cara e com um vocalista tão cínico e interesseiro incapaz de admitir que sua própria banda já morreu há decadas. Como dizia KURT COBAIN: "É MELHOR QUEIMAR DO QUE SE APAGAR AOS POUCOS".

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