quarta-feira, setembro 07, 2022

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Cápsula do tempo

Ele acordou, eram 4 horas da tarde de uma segunda feira bastante quente. Estava ainda suado e resolveu sair da cama para tomar um banho. Não sabia que horas eram e nem que dia era, sentia-se completamente perdido e desnorteado. Não via ninguém pela casa e nem sabia como havia chegado ali, parecia que nunca havia estado ali antes. Perguntou-se, mentalmente, se aquilo era um sonho ou realidade. Tentou lembrar dos nomes das pessoas, das suas últimas atividades, com quem vivia antes e aos poucos sua memória ia voltando a funcionar.
Depois do banho, já mais calmo, mas ainda cansado, ligou o celular e tomou um susto. Viu que 4 anos haviam se passado desde sua última memória consciente. Ele reinicia o celular para ver se era realmente aquilo mesmo e, mais uma vez, fica surpreso ao constatar que o tempo passou rápido demais e enquanto ele dormia. Resolve, então, ligar o computador para consultar as redes sociais e, pouco a pouco, vai descobrindo como as pessoas que ele conhecia mudaram, casaram, formaram-se em suas respectivas faculdades, tiveram filhos, etc. O mundo mudou e a sensação que ele teve foi de que ficou para trás.
O texto acima parece um trecho de um filme de ficção, mas é uma realidade enfrentada por milhões de pessoas que sofrem com depressão e ansiedade. Poderia ser um roteiro de um filme de drama e ficção, mas é parte da minha vida. Eu sofro de depressão desde a adolescência e hoje tenho que lutar sozinho contra ela. Meus pais não possuem condições financeiras de me ajudar e eu tenho plena consciência do quanto eles precisam de mim. Essa é a energia e motivação que tenho para continuar lutando. Escrever sobre meus dramas me ajuda a por para fora o que eu sinto, embora não seja fácil. Eu sou mais um entre milhões que lutam contra a depressão e a ansiedade. Isso não me faz sentir melhor, mas me faz ver que não estou sozinho.
Durmo tarde e acordo tarde todos os dias. Uma das coisas que eu sinto diariamente é uma enorme fraqueza no corpo, um cansaço sem explicação e uma forte desmotivação para a vida. Eu me sinto perdido na maioria das vezes e não tenho ninguém a quem recorrer. Eu poderia ter uma namorada me ajudando, mas eu fui um completo fracasso na vida amorosa, passei por vários desencontros. Hoje, eu estou trabalhando mais uma tentativa de retomar minha vida, pois sinto que a ansiedade tem destruído minha capacidade de controlar meus impulsos e dar sentido a minha vida. Também estou acima do peso, bem acima, e isso é resultado do meu descontrole emocional, eu extrapolo na alimentação como uma forma de suavidar meu sofrimento e isso gera um ciclo sem fim. Depois de tantos anos, pude ao menos experimentar um amadurecimento na maneira como passei a lidar com a doença. Hoje, eu lido melhor com os momentos de solidão e passei a pensar com mais calma minhas atitudes muitas vezes impulsivas. Um dos traços mais marcantes de alguém que sofre de ansiedade em tempos de redes sociais é o pensamento acelerado e a sensação de estar 24 horas conectado ao mundo, o que é um erro. Às vezes, sinto falta do mundo antes dessa revolução tecnológica dos meios de comunicação, em uma era onde estar sozinho e desconectado era padrão e você não precisava estar o tempo todo no whatsapp tentando saber das últimas conversas.

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